REFORMA TRIBUTÁRIA: Apuração Assistida e Diferenças do Sistema Atual

A relação entre sua empresa e o Fisco será direta, transparente e instantânea. Desvende como o novo sistema vai funcionar.

Reforma Tributária: Apuração Assistida

A Reforma Tributária vai muito além de novos impostos. Ela inaugura uma era de fiscalização digital e em tempo real, e no centro dessa transformação está a Apuração Assistida. Esqueça o modelo antigo de declarar e esperar pela fiscalização. Agora, a relação entre sua empresa e o Fisco será direta, transparente e instantânea. Vamos desvendar como esse novo sistema vai funcionar.

O que é a Apuração Assistida?

De forma simples, a Apuração Assistida inverte o protagonismo no cálculo dos tributos. Em vez de sua empresa calcular o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) do zero, o Fisco fará isso por você. Usando os dados de cada Nota Fiscal eletrônica (NF-e) emitida, o sistema da Receita Federal consolidará débitos e créditos e apresentará uma "conta pré-preenchida".

O papel da sua equipe fiscal muda radicalmente: de executor do cálculo para validador. A tarefa será conferir os valores, fazer os ajustes necessários (como incluir um crédito não computado) e, por fim, confirmar a apuração. O modelo é desenhado para ser análogo à declaração pré-preenchida do Imposto de Renda de pessoa física, um mecanismo já conhecido por simplificar o processo para o contribuinte.

Os Pilares da Mudança

Essa nova abordagem se sustenta em quatro objetivos estratégicos:

  • Simplificação: Reduzir drasticamente a complexidade e o custo de conformidade para as empresas, eliminando grande parte do trabalho manual associado à apuração.
  • Transparência e Cooperação: Criar uma visão clara e em tempo real das obrigações fiscais, fomentando uma relação mais colaborativa entre Fisco e contribuinte.
  • Redução de Erros e Litígios: Com a automação do cálculo, a expectativa é minimizar erros humanos e divergências de interpretação, diminuindo o volume de autuações e disputas judiciais.
  • Combate à Evasão: Permitir que a Administração Tributária identifique inconsistências, operações simuladas e fraudes de forma muito mais ágil, com acesso aos dados de todas as transações comerciais do país.

Adeus ao Lançamento por Homologação

Até hoje, o sistema tributário brasileiro opera sob o regime do lançamento por homologação, no qual sua empresa é inteiramente responsável por calcular os tributos, preencher e entregar declarações complexas (como a EFD-Contribuições e a EFD-ICMS/IPI) e efetuar o pagamento. Após tudo isso, a companhia ainda aguarda por até cinco anos sob o risco de o Fisco auditar as operações e, em caso de discordância, aplicar multas e juros retroativos.

Este modelo gera uma enorme insegurança jurídica e impõe todo o ônus da apuração sobre o contribuinte. A Apuração Assistida acaba com essa incerteza. A validação da apuração ocorre em um ciclo muito mais curto (geralmente mensal), antes da constituição definitiva do crédito, eliminando o longo período de exposição ao risco. A relação, antes adversarial, torna-se inerentemente cooperativa, pois ambas as partes trabalham sobre a mesma base de dados.

Como Vai Funcionar na Prática?

Na prática, o fluxo operacional será sequencial e altamente automatizado. Tudo começa com a emissão do documento fiscal eletrônico (DF-e) pela sua empresa, que já possui caráter declaratório e funciona como uma confissão do valor do tributo ali consignado. De forma quase instantânea, o sistema da Receita Federal recebe esses dados e calcula automaticamente os débitos e créditos do período. Com base nessa consolidação, o Fisco disponibiliza um demonstrativo pré-preenchido em um portal online, com o saldo a pagar ou a compensar. A partir daí, sua equipe acessa o portal para conferir, ajustar ou contestar a apuração. Uma vez confirmada a apuração — seja de forma explícita ou pela ausência de manifestação no prazo —, o crédito tributário é formalmente constituído e o saldo devedor é liquidado.

A Tecnologia por Trás da Revolução

Para viabilizar este novo ecossistema, está sendo desenvolvida uma infraestrutura tecnológica de escala inédita, hospedada na chamada "nuvem soberana", um ambiente sob controle governamental para garantir a segurança dos dados fiscais. O projeto, liderado pelo Serpro, é descrito como o maior desafio tecnológico do país em processamento de dados, com projeções de um volume de transações 10% superior ao do PIX, mas com arquivos que podem ser até 150 vezes mais complexos, totalizando cerca de 5 petabytes de dados processados anualmente. Essa capacidade transforma a Receita Federal em uma das maiores entidades de Big Data do país.

Conclusão: O Foco Agora é a Qualidade do Dado

A Apuração Assistida não é apenas uma mudança de procedimento; é uma redefinição da própria natureza da conformidade fiscal no Brasil. O foco das áreas fiscais deixa de ser o "fechamento mensal" para se concentrar na "garantia da qualidade e exatidão dos dados na sua origem". A precisão de cada nota fiscal emitida torna-se o elemento mais crítico para evitar riscos financeiros e operacionais imediatos. A pergunta que fica é: sua empresa está preparada para essa nova era digital?